Páginas

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Estudantes da UFPI conquistam melhorias no Curso de Psicologia

Data Original: sexta-feira, 15 de abril

Depois de 17 dias de paralisação dos estudantes do Campus Ministro Reis Velloso, foram comprados os testes psicológicos e ampliado o corpo docente para suprir as necessidades mais urgentes do curso


por Tertuliano Filho


Após três semanas paralisados, os estudantes do Curso de Psicologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Reis Velloso, em Parnaíba, voltaram às salas de aula. De 21 de março a 7 de abril, eles fizeram manifestações dentro da instituição, reuniões e passeata reivindicando condições urgentes para o bom funcionamento do curso. Após pressões dos alunos, alguns problemas até então sem prazo para serem resolvidos foram solucionados no início da última semana da paralisação, mas os alunos continuam sua luta por melhorias.
Segundo Janaína Ferreira, estudante do 4º período de Psicologia e coordenadora de comunicação do Centro Acadêmico de Psicologia (Capsi), em dezembro do ano passado, alguns alunos se reuniram com o diretor do campus, José Duarte Baluz. Eles apresentaram documento com todas as reivindicações dos alunos do Curso de Psicologia e relação de problemas que tornavam inviável adentrar o período seguinte. Segundo a estudante, o diretor assinou como ciente das reivindicações e disse que haveria melhorias.
Em março deste ano, quando se iniciou o período de aulas na universidade, houve uma visita do Ministério da Educação (MEC), por ocasião do processo de reconhecimento do curso. Nesse momento, as avaliadoras se reuniram apenas com os alunos para ouvir suas próprias avaliações do curso. Foi então que os graduandos tomaram conhecimento das reais dificuldades que este estava passando, já que os problemas não se restringiam apenas a alguns blocos, mas atingiam todas as turmas.
A clínica-escola onde os estudantes deveriam realizar estágio estava fechada e sem nenhum móvel ou equipamento de qualquer espécie. Não havia livros suficientes para suprir as necessidades dos alunos, não existiam testes psicológicos e um grande número de disciplinas não possuía professor (13, segundo o presidente do Capsi, David Carvalho), além da falta de professores orientadores para estágios e Trabalho de Conclusão de Curso.
Quando as reclamações começaram a chegar ao Capsi, foi feita reunião no dia 18 de março, sexta-feira. Na reunião, os membros do Centro Acadêmico explicaram que o que poderiam fazer segundo a burocracia, já havia sido feito. “Só poderíamos ser vistos, e talvez atendidos, se chamássemos atenção!”, explicou Ferreira. Foi quando os alunos decidiram paralisar. “Optamos pela paralisação das atividades, sendo que nos reuniríamos todos os dias na UFPI reivindicando nossos diretos. E assim foi durante toda a semana. Inclusive, na quarta-feira, fizemos uma passeata na avenida mais movimentada de Parnaíba.”, acrescenta.
Alunos em passeata na avenida São Sebastião, no dia 23 de março
No dia 25 de março, o coordenador administrativo financeiro do campus, Fábio José Nascimento Motta, veio a Teresina para reunião com o reitor Dr. Luiz de Sousa Santos Júnior. Ao retornar, marcou reunião com os alunos para segunda-feira (28). Nessa reunião a gente esperava que ele chegasse com alguma previsão, né? Alguma promessa, qualquer coisa. E ele chegou com nada.”, declarou Janaína Ferreira.
Segundo a Coordenadoria de Comunicação Social da UFPI, os livros, que já deveriam ter sido entregues há meses, são responsabilidade da empresa vencedora do pregão, que não cumpriu com o prazo. A mesma explicação foi dada em relação à clínica-escola fechada por falta de equipamentos. Os testes psicológicos não podiam ser comprados porque a única empresa que os vende no Brasil estaria com o selo vencido. E já havia sido aberto edital para concurso para dois professores substitutos.
Isso nos deixou ainda mais aflitos (...). Continuamos paralisados! Estávamos nos organizando para ir a Teresina, quando recebemos a notícia de que o reitor viria a Parnaíba no dia 30 de março, e iria conversar conosco.”, comentou a estudante. Mas, segundo a maioria dos alunos que foram recebidos na reunião, o reitor agiu de forma indiferente às suas reivindicações. Fez descaso, foi ignorante. A nota do MEC (...) A nossa avaliação foi sem conceito! Simplesmente sem conceito. E aí, sabe o que foi que ele disse? Que isso aí não tirava o sono dele não. Que ia recorrer que na verdade não tava assim não. Sendo que ele nem entrou dentro, ele não visitou o prédio. (...) Tá todo mundo aqui sem rumo porque a nossa última esperança era o reitor, ele resolver alguma coisa. Só que não foi feito.”, desabafou Roberth Franco, aluno do 3ª período.
Após a visita do reitor, surgiram dúvidas entre os alunos. Alguns queriam continuar paralisados, outros, voltar para as salas de aula. Cada bloco se reuniu e discutiu o que fazer, e em uma assembleia geral na sexta-feira (1º de abril) decidiu-se por continuar com a paralisação e marcou-se visita a Teresina para a segunda-feira, dia 4. “Porém, nossa ida a Teresina ficou impossibilitada, pois nos negaram o ônibus da UFPI (...), o diretor do campus alegou que as medidas pra resolução de nossas reivindicações estavam sendo tomadas, e que por isso deveríamos voltar às salas de aula.”, explicou Janaína Ferreira.
Os alunos exigiram documentos que comprovassem que as medidas estavam, de fato, sendo tomadas. Em troca encerraríamos a paralisação. (...) E os documentos não nos foram entregues. O diretor do campus afirmou que o reitor disse que precisamos confiar na palavra dele.”, esclareceu Ferreira.
Ainda no dia 4, os estudantes foram à Câmara dos Vereadores de Parnaíba. “Eles pegaram a nossa documentação, pegaram nosso manifesto, enviaram pra o reitor, com a palavra deles. Pedindo também, né? Fazendo o posicionamento deles para o reitor, para o governador, para os deputados federais e para o prefeito de Parnaíba e para o diretor do campus.” , explicou David Carvalho.
Mesmo sem nenhuma garantia além da palavra do reitor, os alunos retornaram às aulas no dia 7 de abril. “Contudo, saiu no Diário Oficial da União algumas coisas que tendem a diminuir nossos problemas, pelo menos por enquanto. Como, por exemplo, a contratação de uma professora efetiva, o concurso para dois professores substitutos e já entregaram alguns testes psicológicos.”, disse Janaína Ferreira. Os móveis e materiais para a clínica-escola, bem como os livros para a biblioteca, ainda não chegaram.
Salas vazias na clínica-escola

A paralisação terminou, mas o movimento continua. Os estudantes acreditam que foi somente graças às manifestações e às ameaças de vir a Teresina que os problemas começaram a ser resolvidos. “Continuamos pressionando os responsáveis pelo campus de Parnaíba, que afirmam que o resto das coisas está chegando. Mas afirmam sempre que a culpa é da burocracia. Houve o caso dos testes. Eles alegaram que não podiam comprá-los por causa de um selo na documentação que estava ‘vencido’, e só quando a empresa regularizasse isso que eles poderiam comprar. (...) Dia 11 de abril chegou a primeira remessa de testes em Parnaíba. E a mudança do selo? Como eles podem ter vencido a burocracia tão rápido?”, questiona a coordenadora de comunicação do CAPSI. “A paralisação foi encerrada, mas o movimento não, pois sabemos que o que foi conquistado é mérito de nossas lutas, e se não continuarmos, os problemas continuarão.”, completou.